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Patrick Duddy: ‘O governo é autoritário e à margem da democracia’

Último embaixador dos EUA na Venezuela, acadêmico diz que chavismo não se arriscará a perder poder diante de uma oposição que parece cada vez mais forte

SANTIAGO — Há sete anos Washington e Caracas só têm relações diplomáticas no plano de encarregados de negócios. O último embaixador dos EUA na Venezuela foi Patrick Duddy, diplomata de carreira nomeado por George W. Bush e ratificado por Barack Obama. Fora do serviço diplomático, Duddy dirige hoje o Centro de Estudos Latino-Americanos na Universidade de Duke, na Carolina do Norte.

Seu antecessor na embaixada em Caracas, William Brownfield, advertiu sobre a penetração do narcotráfico no governo venezuelano. Como o senhor vê isso?

O vice-presidente venezuelano foi sancionado especificamente com menção de cumplicidade com o narcotráfico. O ministro do Interior também foi sancionado. Tem sido óbvio, há tempos, que o fluxo de drogas através do país é significativo, e parece cada vez mais óbvio que não poderia ter sido assim sem uma certa cumplicidade com elementos do próprio governo.

O governo de Nicolás Maduro resistiu a quatro meses de protestos, que deixaram mais de 120 mortos, mas ainda assim seguiu adiante com sua Assembleia Constituinte. Por que razão acredita que Maduro se manteve no poder?

É difícil dizer. Não sei quantas vezes, ao longo dos anos, funcionários bolivarianos insistiram que não vão deixar de governar, muito menos permitir o desmantelamento do que eles qualificam como o socialismo do século XXI. Me parece que o que se pode ver, em particular desde as eleições legislativas de 2015 que a oposição venceu de forma avassaladora, é que o governo não vai arriscar-se a perder poder diante de uma oposição que parece cada vez mais forte. Mas a oposição é democrática e está disposta a exercer seus direitos democraticamente. Protestaram nas ruas, mas também sempre expressaram sua anuência a votar, de pôr todas essas questões frente ao povo, para que o povo possa decidir. Isso tem sido bastante impressionante. E o governo, por outra parte, decidiu montar essa Constituinte para garantir a continuidade da revolução e sua permanência como governantes.

Como vê a oposição venezuelana, com suas diferenças internas?

A oposição é uma coalizão de vários partidos, muitos competiram entre si ao longo dos anos. Me parece que não é de surpreender que de vez em quando nem todos compartilhem a mesma opinião sobre como avançar em seus interesses. O que diria é que até agora a evidência é bastante forte de que sua vocação é democrática; debatem entre eles, e isso me parece muito saudável.

Na Venezuela há uma ditadura?

É muito difícil defender o conceito de que (o chavismo) é democrático, dadas as suas ações, à decisão de ignorar a Assembleia Nacional. Tudo demonstra que o governo venezuelano é claramente autoritário e à margem da democracia.

* O ‘El Mercurio’ integra o Grupo de Diarios America (GDA), do qual O GLOBO também faz parte